A chuva continuava a cair enquanto aquele sábado escorria em direção ao seu fim. Era 1º de junho de 1991. O tempo não lembrava em nada nenhuma cena de filme famoso. Mas num apartamento suburbano de um bairro fronteira da região de Venda Nova, uma reunião começava. O relógio apontava duas horas e a mesma chuva que caía lá fora marcaria uma constante nas reuniões dessas pessoas, pelo próximos dois anos.
Estavam presentes à reunião: Jefferson Alfredo Vieira, Gleydson Augusto de Souza Menezes e Amaury de Paula da Conceição Vieira.
O assunto: a formação de um grupo de quadrinhos.
Entre piadas (tristes piadas) nascia o grupo que daria origem ao CMCDQN: os Mutanóides Associados. O nome vinha de uma quase homônimo da França, formado na década de 70 por vários artistas, entre os quais Moebius e Philipe Caza, que denominavam-se os Humanóides Associados.

Nossa intenção era, na realidade, formar um grupo pelo qual pudéssemos melhorar o nível de nossos trabalhos. A idéia inicial de realizar este trabalho parecia interessante, e nós quatro (havia um quarto membro que faltara à reunião: Gilberto de Miranda Junior) começamos a perder gradativamente tardes de sábados discutindo e fazendo quadrinhos.
Apenas o Jefferson já havia tido experiência no ramo de fanzines. Ele, juntamente com um primo, havia fundado na década de oitenta um grupo de fanáticos pelos quadrinhos americanos da Marvel E. Group. Fizeram juntos quatro números de um fanzine intitulado “Crepúsculo dos Deuses” e possuíam uma lista de mais de cinquenta correspondentes, entre eles Maria de Fátima Portela (Tetê Portela), irmã do Watson Portela e fanzineira na época; Emir Ribeiro, criador da Velta e desenhista profissional de quadrinhos; Patrícia Medina; Grupo Tropical, do fanzine Trópico; Sr. Antônio Roque Gobbo, fundador da BNHQ; e uma pá de outros fanzineiros.
Ao conhecer o Sr. Antônio e seu trabalho na BNHQ, Jefferson passou a participar assiduamente do Repórter HQ (o qual ele lembra, ainda, com saudades) fazendo capas, escrevendo matérias e comparecendo pessoalmente à Biblioteca para opinar ou mesmo fazer valer a pena um investimento no qual seu criador emprenhava-se em levar adiante.

Depois de um longo jejum, este “meio-veterano” fanzineiro resolveu fazer seu próprio fanzine sem pretenções de publicação e divulgação. Surgia o SCALLOP, fanzine que já está no n. 3 mas não saiu da pasta preta onde o autor guarda seus originais.
Com esta troca de experiências o grupo de certa forma cresceu. A publicação de Previews nos anos de 1991 e 1992 tornou nosso grupo conhecido e começamos a nos corresponder com algumas pessoas de Belo Horizonte e cidades vizinhas.
Começou então o ingresso de pessoas no grupo. Primeiro foi o nosso amigo Sílvio Romero Mendonça, um fã de quadrinhos japoneses. Em seguida, por intermédio de Romero, entrou em cena Silvana G. Navarro, uma artista que carregava em sua bagagem um curso de desenho no INAP. Também contamos sempre com a presença e a colaboração voluntária de Patrícia Alexandre Pereira, uma estudante de artes plásticas da UFMG. Patrícia, atualmente, deseja participar mais diligentemente das atividade do grupo.
Ocorreram, também, desistências. Gilberto de Miranda, um dos mais aficionados inicialmente, teve que abandonar o grupo por causa de seu curso universitário; e o companheiro Gleydson também se desvinculou um pouco antes do Gilberto.
E entraram em cena, logo após a inauguração do Setor de Quadrinhos da Biblioteca Infanto-Juvenil (a Gibiteca de Belo Horizonte), os companheiros Wellington Santos e Hilton Moreira. O Wellington conheceu o CMCDQN através de uma nota sobre o grupo publicada no Estado de Minas em 1991. Ele veio a integrar o grupo no ano seguinte e vem trabalhando em um projeto pessoal de um personagem chamado “Celestial”. Seu companheiro, Hilton Moreira é outro, dos muitos que existem por aí, que é fanático por cultura nipônica. Foi também na inauguração da Gibiteca de Belo Horizonte que tivemos o primeiro contato com o Grupo Pena de Nós.
O grupo se mantinha coeso porém a falta de motivação começou a tornar difícil a continuidade do trabalho. Resolvemos organizar um Previews Especial composto com a mesma qualidade dos outros dois anteriores, porém com doze páginas ao invés das quatro tradicionais. Este Previews Especial n. 1 acabou nunca sendo lançado.

No início deste ano reestabelecemos contato com o grupo Pena de Nós por ocasião do planejamento de nossa primeira mostra de quadrinhos. Empolgados pela idéia desta mostra acabamos trabalhando em conjunto e decidimos, numa de nossas reuniões, que o CMCDQN seria formado não por um grupo mas por todos os grupos ou pessoas interessadas.
Com o sucesso de nossa mostra piloto (então intitulada “1ª Amostra de Quadrinhos do CMCDQN”), e com a continuidade de nosso trabalho conjunto, não vimos mais necessidade de manter a idéia de grupos distintos, e no dia 1º de junho de 1993 comemoramos (num churrasco à mineira) o fim dos Mutanóides Associados e do Grupo Pena de Nós e a criação do “grande” CMCDQN.

A formação original dos Mutanóides Associados era composta por Amaury de Paula da Conceição Vieira, Gilberto de Miranda Junior, Gleydson Augusto de Souza Menezes, Hilton Moreira, Jefferson Alfredo Vieira, Patrícia Alexandre Pereira, Silvana G. Navarro, Sílvio Romero Mendança, Wellington José Santos.
Fonte: Mosaico n. 1